quinta-feira, 6 de março de 2008

Lurdinhas

(este texto já é antigo, mas mantém uma actualidade gritante .... qualquer semelhança com pessoas ou acontecimentos reais, é pura coincidência ... (hi, hi, hi ....))


Lurdinhas era a vaca mais altiva e arrogante da manada.

Ninguém gostava dela e ela também não gostava de ninguém, dedicando todos os momentos da sua lamentável existência á “arte” de bem tramar todos os restantes elementos da manada .

Bem, na verdade, todos não … a única excepção, o único que ela não sacaneava era Platão, o macho chefe da manada, que ela apaparicava de forma tão ostensiva, como exagerada .

Platão, esse também não a suportava, achava-a pedante e estúpida, mas politicão como era, aproveitava-se da sua cega adoração, para ajudá-lo no controle da manada .

Assim Lurdinhas estava por ele encarregue do treino dos bezerros e na alfabetização das vacas mais velhas, que não tinham completado o curso geral de estábulos e que portanto produziam um leite de qualidade duvidosa.

Ela odiava aquele trabalho, teria claramente preferido fazer umas escutas secretas dos mugidos contestários, de algumas vacas mais rebeldes, que conspiravam no escuro contra a ditadura arrogante de Platão. Mas dado a sua adoração pelo chefe, lá suportava aquele fardo . Para além do mais como também odiava todos os outros membros da manada, aquela sempre era um forma eficaz de exercer a sua vingança, fazendo-lhes a vida negra e inventando sempre novas maneiras de os prejudicar.

Tanto ódio e desprezo, começara logo quando bezerra, quando todos os outros gozavam com ela, gritando : Lurdinhas, minhoquinhas ! Lurdinhas, minhoquinhas !

Ela passava-se, gritava como uma perdida e corria atrás deles, furibunda … mas como sempre fora uma desajeitada, metia as patas de trás, pelas da frente e esbardalhava-se para ali no chão, perante a chacota dos outros bezerros marotos .

Mais tarde, quando chegara a adolescência, ficava para ali abandonada, pastando tristemente num campo, com mais bostas do que erva e os jovens bois que passavam, nem um mugido reles lhe lançavam, desprezando-a ostensivamente.

As outras vaquinhas também não a suportavam e nunca permitiram que ela assistisse com elas à novela Florivaca, que fazia as delícias da manada, lá no prado 3.

Assim cresceu só e abandonada, vendo o rancor e o ódio, crescer a cada dia que passava.

Mais tarde dedicou-se com todas as suas forças ao treino, no curso geral de estábulos e conquistou a confiança dos tratadores denunciando as outras vacas, que cabulavam, ou se ajudavam umas ás outras.

Era hipócrita, falsa e vingativa, sempre com ar pesado e carrancudo.

Sabia adular os poderosos, com a mesma força com que oprimia os mais fracos e assim foi subindo no governo da manada.

Platão irá usá-la mais algum tempo e depois quando precisar de reconquistar a confiança da manada, irá pô-la de parte, discretamente, arranjando outra mais simpática e popular, para as suas funções.

Nessa altura Lurdinhas poderá até suicidar-se, ou oferecer a sua carne para o churrasco, que ninguém sentirá pena dela, até pelo contrário todos farão uma festa para comemorar o seu desaparecimento .

Mas, até que isso aconteça Lurdinhas continuará na sua batalha, massacrando tudo e todos com tenacidade, arrogância e requintes de malvadez …

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