As fotografias são bonitas, mas o homem e a mulher,que são parte integrante da natureza, também o são. A natureza de que falas também tem os seus lados menos bons.O yin e o Yang completam-se.Faz tudo parte do todo.
Eu atrever-me-ia a argumentar contra a ideia de que o ser humano é «imperfeito, paranóico, desequilibrado». Não que seja um optimista e que tenha fé na espécie humana, pois olha-se à volta e o que está à vista é tudo aquilo que te leva a escrever essa frase: são as guerras, os crimes, a barbárie quotidiana, o ódio, o mal... Aqui há dias, se bem te recordas, argumentei aqui em sentido inverso quando defendi a existência de valores essenciais - a amizade e o amor - arquétipos de uma educação e de uma convivência saudável entre as pessoas, independentemente da expressão que lhes damos em cada caso concreto ou, se preferirmos, da percepção ou do reconhecimento da sua existência no decurso dos processos relacionais em que estamos mergulhados. Pois hoje chegou a vez de inverter o argumento e dizer, exactamente, que é o Manel, o Joaquim, a Maria, a Antónia e a Teresa que podem - por virtude de circunstâncias pessoais e, sobretudo, por efeito dos constrangimentos sociais que as determinam - ser «imperfeitos paranóicos e desequilibrados». Como poderemos dizer que o ser humano é imperfeito a não ser por relação a um modelo imaginado de perfeição? É claro que esse modelo deve existir em cada um de nós, como apelo a que nos melhoremos, a que sejamos bons e justos, mas o ponto da questão é o mesmo que se coloca relativamente à ideia freudiana do "trauma do nascimento", ou seja: um trauma deve ser uma situação de excepção face a uma normalidade definicional. Como poderemos qualificar de traumático um acontecimento que é comum a toda a espécie? Todos nascemos! Podemos sempre, no entanto - e aqui a coisa faz sentido... - invocar um pathos específico da espécie devido à consciência traumática da morte que é característica especificamente humana. Sabemos que um dia cessamos a nossa existência (por isso precisamos da imortalidade e de todas aquelas crenças que servem o ego como um cão ao seu dono, negando o óbvio, procurando uma continuidade, um prolongamento...). Mas aqui, o mesmo o argumento pode também, então, ser invocado: se todos morremos, como se pode falar numa consciência traumática da morte? Diria que podemos porque é isso, justamente, que nos distingue dos animais: o homem é capaz de matar o seu semelhante... E talvez seja por isso que tu dizes que é imperfeito, paranóico e desequilibrado. Mas fá-lo por virtude das circunstâncias complexas em que foi educado e do tipo de existência social que o produz, como parte de um colectivo. Quando nascemos, saímos para o mundo inacabados... Esse inacabamento (neotenia) é perfeito, pois é a antítese da especialização que caracteriza os outros animais, que nascem com os "programas" inscritos nos genes praticamente completos (por isso não precisam aprender a andar, a alimentar-se, a cantar ou a acasalar). O nosso cérebro e as nossas faculdades, assim como a activação ou a ultrapassagem de características herdadas desenvolve a sua parte mais importante fora do útero materno. Tem de aprender. Tem de ser ensinado. Tem de haver transmissão... E o cérebro continua a crescer durante anos e anos, o sistema nervoso e as nossas faculdades demoram a desenvolver-se e a ganharem expressão... Então, algures no caminho, à medida que crescemos, podemos ficar de facto, «imperfeitos, paranóicos e desequilibrados». Mas dizer que o ser humano é isso mesmo, talvez seja errar o alvo. Imperfeita, paranóica e desequilibrada é a educação própria de uma sociedade assente na competição - no querer ser-se melhor e mais bonito porque se comeu a sopa mais depressa; de uma sociedade onde até os desenhos animados treinam para a violência e onde... Bom, aqui começaria a verdadeira elaboração dos alvos a atingir quando falamos de imperfeição desequilíbrio, etc... É tarde, lá vou eu, mais uma vez, a correr... (Ah... E já que a Margaridaa falou no homem e na mulher, não deixem de espreitar a chegada da primavera no MMM, em triplom.blogspot.com)
Desculpa Marley, mas hoje não estou com cabeça para argumentar contigo. As minhas palavras neste post, foram apenas um desabafo, perante uma situação que me aconteceu. Um dia logo te conto. Um abraço
Eu consigo perceber o que o Zacarias quer dizer. Eu também gosto e preciso, por vezes, de estar longe das pessoas, em silencio e no meio da natureza. Eu também preciso de momentos onde facilmente consiga abstrair-me, inclusive da minha pessoa pensante e obsessiva que insiste em me perseguir para onde quer que eu vá. A comunhão com a natureza e a tranquilidade que de aí advém, é quase sempre muito compensadora.
Mas o imperfeito também é perfeito. a vida tb se encontra no alternar desta bipolaridade e até na sua transcendência. O que gostamos, o que não gostamos, e o que é independentemente de gostarmos ou não.
Eu diria antes, que nós somos perfeitos e imperfeitos. Mas também temos a possibilidade de ultrapassar essas noções e ser simplesmente sem polaridades e moralidades. Sem constrangimentos, sem medos...com liberdade, transcendendo quaisquer modelos ou referências ficcionais, simplesmente sendo. Xinha
5 comentários:
As fotografias são bonitas, mas o homem e a mulher,que são parte integrante da natureza, também o são.
A natureza de que falas também tem os seus lados menos bons.O yin e o Yang completam-se.Faz tudo parte do todo.
Eu atrever-me-ia a argumentar contra a ideia de que o ser humano é «imperfeito, paranóico, desequilibrado». Não que seja um optimista e que tenha fé na espécie humana, pois olha-se à volta e o que está à vista é tudo aquilo que te leva a escrever essa frase: são as guerras, os crimes, a barbárie quotidiana, o ódio, o mal... Aqui há dias, se bem te recordas, argumentei aqui em sentido inverso quando defendi a existência de valores essenciais - a amizade e o amor - arquétipos de uma educação e de uma convivência saudável entre as pessoas, independentemente da expressão que lhes damos em cada caso concreto ou, se preferirmos, da percepção ou do reconhecimento da sua existência no decurso dos processos relacionais em que estamos mergulhados. Pois hoje chegou a vez de inverter o argumento e dizer, exactamente, que é o Manel, o Joaquim, a Maria, a Antónia e a Teresa que podem - por virtude de circunstâncias pessoais e, sobretudo, por efeito dos constrangimentos sociais que as determinam - ser «imperfeitos paranóicos e desequilibrados».
Como poderemos dizer que o ser humano é imperfeito a não ser por relação a um modelo imaginado de perfeição? É claro que esse modelo deve existir em cada um de nós, como apelo a que nos melhoremos, a que sejamos bons e justos, mas o ponto da questão é o mesmo que se coloca relativamente à ideia freudiana do "trauma do nascimento", ou seja: um trauma deve ser uma situação de excepção face a uma normalidade definicional. Como poderemos qualificar de traumático um acontecimento que é comum a toda a espécie? Todos nascemos! Podemos sempre, no entanto - e aqui a coisa faz sentido... - invocar um pathos específico da espécie devido à consciência traumática da morte que é característica especificamente humana. Sabemos que um dia cessamos a nossa existência (por isso precisamos da imortalidade e de todas aquelas crenças que servem o ego como um cão ao seu dono, negando o óbvio, procurando uma continuidade, um prolongamento...). Mas aqui, o mesmo o argumento pode também, então, ser invocado: se todos morremos, como se pode falar numa consciência traumática da morte? Diria que podemos porque é isso, justamente, que nos distingue dos animais: o homem é capaz de matar o seu semelhante... E talvez seja por isso que tu dizes que é imperfeito, paranóico e desequilibrado. Mas fá-lo por virtude das circunstâncias complexas em que foi educado e do tipo de existência social que o produz, como parte de um colectivo. Quando nascemos, saímos para o mundo inacabados... Esse inacabamento (neotenia) é perfeito, pois é a antítese da especialização que caracteriza os outros animais, que nascem com os "programas" inscritos nos genes praticamente completos (por isso não precisam aprender a andar, a alimentar-se, a cantar ou a acasalar). O nosso cérebro e as nossas faculdades, assim como a activação ou a ultrapassagem de características herdadas desenvolve a sua parte mais importante fora do útero materno. Tem de aprender. Tem de ser ensinado. Tem de haver transmissão... E o cérebro continua a crescer durante anos e anos, o sistema nervoso e as nossas faculdades demoram a desenvolver-se e a ganharem expressão... Então, algures no caminho, à medida que crescemos, podemos ficar de facto, «imperfeitos, paranóicos e desequilibrados». Mas dizer que o ser humano é isso mesmo, talvez seja errar o alvo. Imperfeita, paranóica e desequilibrada é a educação própria de uma sociedade assente na competição - no querer ser-se melhor e mais bonito porque se comeu a sopa mais depressa; de uma sociedade onde até os desenhos animados treinam para a violência e onde... Bom, aqui começaria a verdadeira elaboração dos alvos a atingir quando falamos de imperfeição desequilíbrio, etc...
É tarde, lá vou eu, mais uma vez, a correr...
(Ah... E já que a Margaridaa falou no homem e na mulher, não deixem de espreitar a chegada da primavera no MMM, em triplom.blogspot.com)
One Love
Marley
Desculpa Marley, mas hoje não estou com cabeça para argumentar contigo.
As minhas palavras neste post, foram apenas um desabafo, perante uma situação que me aconteceu.
Um dia logo te conto.
Um abraço
Ok amigo!
Toca a descansar!
One Love
Marley
Eu consigo perceber o que o Zacarias quer dizer. Eu também gosto e preciso, por vezes, de estar longe das pessoas, em silencio e no meio da natureza. Eu também preciso de momentos onde facilmente consiga abstrair-me, inclusive da minha pessoa pensante e obsessiva que insiste em me perseguir para onde quer que eu vá. A comunhão com a natureza e a tranquilidade que de aí advém, é quase sempre muito compensadora.
Mas o imperfeito também é perfeito.
a vida tb se encontra no alternar desta bipolaridade e até na sua transcendência. O que gostamos, o que não gostamos, e o que é independentemente de gostarmos ou não.
Eu diria antes, que nós somos perfeitos e imperfeitos. Mas também temos a possibilidade de ultrapassar essas noções e ser simplesmente sem polaridades e moralidades. Sem constrangimentos, sem medos...com liberdade, transcendendo quaisquer modelos ou referências ficcionais, simplesmente sendo.
Xinha
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