Tocam os sinos nas escolas do “reino”, nos céus rebentam foguetes de satisfação, saltam as rolhas das garrafas de espumante ( champagne é caro demais, não exagerem ). A ministra da Educação cedeu, Sócrates recuou … vitória, vitória !!! …
Permitam-me discordar, não acho que tenha sido nenhuma vitória, antes pelo contrário é uma derrota … uma derrota profunda, ainda por cima agora que os professores estavam “por cima”, depois de um incrível grito de revolta, que mobilizou 100 mil professores nas ruas de Lisboa e muitos outros milhares em manifestações várias, por todo o país.
Porquê ? Passo a explicar:
· A simplificação da avaliação dos contratados, no que resta deste ano lectivo, não é uma cedência do Ministério, é mais a constatação da impossibilidade prática de a realizar em tão curto espaço de tempo; para o próximo ano lectivo a “besta negra” burocrática e profundamente injusta vai voltar, com ainda maior força, uma vez que já terá desaparecido o argumento da falta de tempo, para a realizar;
· A redução do acordo à questão da avaliação dos docentes e a mais algumas promessas ainda por definir, vem indirectamente dar razão a Sócrates e Lurdinhas, quando diziam que esta luta toda só existia porque os professores não queriam ser avaliados !!! …. Afinal de contas foi só simplificarem a avaliação e logo surgiu o acordo com os sindicatos !!!
Como é possível os sindicatos terem caído neste logro ? Como é possível terem esquecido todas as outras reivindicações, porventura tanto ou até mais importantes do que a avaliação, como o novo Estatuto da Carreira Docente, a divisão miserável dos professores em 2 grupos ( titulares e os demais), as absurdas e farsolas aulas de substituição, o inenarrável Estatuto do aluno, o congelamento de carreiras, etc …
Como puderam encarar de frente aquela mulher, que assumidamente odeia os professores, que os ridicularizou, insultou e prejudicou, ao longo dos últimos anos ?
· O acordo agora alcançado é uma excelente notícia para Sócrates e um enorme empurrão na sua pré-campanha eleitoral. Agora ele irá aparecer como o campeão da concórdia, o mediador de crises, o humanista que tenta resolver a difícil situação económica, sem esquecer as pessoas e os seus problemas. Não perceberam os sindicatos, que se este “personagem” voltar a ganhar com maioria absoluta, ele irá voltar à carga e uma terrível vingança irá abater-se sobre estes em que ele agora dá palmadinhas nas costas e sobre toda a classe docente em geral, culpada de o terem humilhado com uma das maiores manifestações dos últimos 30 anos ?
· Finalmente e a mais importante de todas as derrotas, é a quebra da unidade e da unanimidade de todos os professores. Sim porque não eram só os 100 mil que se manifestaram naquele Sábado em Lisboa … eram praticamente todos, os que se opunham à enorme “macacada” que se tornou o Ensino em Portugal. Essa unanimidade acabou na hora em que os Sindicatos chegaram a este humilhante acordo, com a ministra. E já não voltará nunca mais, não tenhamos ilusões. Daqui para a frente, uns farão greve e outros não, uns irão a manifestações e outros não, uns estarão de acordo, outros contra e outros nem uma coisa, nem outra.
Uma última questão se coloca: será que os professores poderiam ter dito não ao acordo cozinhado nas suas costas, pelos seus sindicatos ? Penso que não, infelizmente o gesto dos sindicatos terem fechado o acordo sem consultarem previamente aqueles que teoricamente estariam a defender, deixou toda a classe docente refém desse mesmo acordo.
Quando os sindicatos finalmente acordaram e compreenderam a esparrela onde tinham caído, já era tarde demais … já a guerra da opinião pública tinha sido perdida e já não havia retrocesso. Para além do que a estratégia do Ministério da Educação em chantagear a sua aceitação, lançando na “fogueira” a avaliação urgente dos contratados, foi maquiavélicamente perfeita e funcionou em pleno.
Foi esta a grande derrota dos professores ! É também uma grande derrota para o que restava do moribundo sindicalismo português, vestígio arqueológico de uma revolução que parece já estar tão longe …
É por fim uma derrota para a Educação em Portugal e portanto uma derrota para o país !!!
O que irá vingar daqui para a frente, com ainda maior força e convicção é a primazia do “Faz de conta”, com as estatísticas a apresentarem resultados cada vez mais brilhantes e distintos, resultados esses que caem por terra ruidosamente e de forma vergonhosa, quando os nossos alunos são submetidos a testes internacionais, onde somos os primeiros …. mas a contar do fim !!!
2 comentários:
Em total desacordo contigo, caro Zacarias, de princípio ao fim. E considerando até, peço desculpa pela frontalidade, que não tens qualquer moral para o afirmares. Nem estiveste na grande manif. de Lisboa, nem no plenário que serviu exactamente, para fazer aquilo que dizes não ter sido feito: consultar os professores. E foi um grande dia para a escola, fica sabendo.
É melhor e mais útil falar nos locais próprios, isto é, onde trabalhas, mobilizando vontades e opiniões, do que nos blogs.
Depois falamos.
Um abraço.
Caro Manuel
És livre de ter a tua opinião e discordar, assim como eu sou livre de ter a minha e expressá-la onde eu bem entender.
Quanto a morais não discuto.
Um abraço.
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