Detesto demagogias e acreditem que não é este o objectivo deste meu artigo.
Mas apesar de polémico, não posso deixar de vos dizer aquilo que sinto !!!
Confesso uma certa decepção quanto à forma como os portugueses estão a reagir à crise económica, que nos afecta.
É evidente que há excepções, é vidente que há portugueses maravilhosos, que nada tem a ver com o que vos vou dizer a seguir. Há "anjos" caídos dos céus, que contra tudo e contra todos persistem em espalhar a ajuda, a solidariedade, o optimismo, a esperança.
Mas ...
É da maioria que vos vou falar hoje, é da grande massa portuga deste país.
Parece-me que no geral não entenderam nada, desta que devia ser uma grande lição.
Tudo o mundo anda empertigado em atribuir culpas para aquilo a que chegámos ... mas no fundo ... a culpa é sempre dos outros !!! os políticos claro ! (esquecendo-se que votaram neles), os banqueiros, claro (esquecendo-se que é a eles que confiam o seu dinheirinho), os patrões, claro (se bem que lá no fundo, todos gostariam de também o ser), o governo, claro ( que também escolheram), os vizinhos, claro (porque tem o carro e a casa que eu não tenho).... etc... etc.
A mentalidade essa continua igual ... o individualismo, o ciúme, a inveja, continuam a prevalecer.
Essa mentalidade tacanha e triste que é no fundo a principal razão de todas estas desgraças, que nos tem caído em cima (e vão continuar a cair !!!!).
Isto vem tudo a propósito de uma triste constatação:
Numa altura em que mais que nunca precisamos todos uns dos outros, em que a solidariedade, a partilha a entreajuda deviam ser regra, e não excepção ... a moda é apontar o dedo aos outros, proclamando a sua culpabilidade e a nossa inocência.
Vou vos contar uma história: Este ano sou professor de uma turma especial, com alunos com dificuldades, quase todos eles oriundos de baixos extractos sociais, com problemas terríveis e dificuldades económicas.
Como tal decidi, que estes alunos não teriam de comprar livros, para não sobrecarregar mais as famílias carenciadas. Pensei fazer uma campanha junto de outros alunos, de uma turma que tive no ano anterior, para que doassem, ou emprestassem à escola, os livros do ano anterior, que já não iriam utilizar mais e que ficariam esquecidos lá por casa, até que os jogassem para o lixo (como todo o mundo faz).
Disse até que se os quisessem de volta, no final do ano lectivo voltariam ao dono.
Expliquei-lhes que estava a fazer o pedido, porque havia colegas deles cujos pais não tinham dinheiro para comprar livro e desta forma podiam ajudar estas famílias.
Depois de muita insistência os resultados foram pouco mais que deprimentes: em 23 alunos consegui apenas 4 livros !!!
O que dá um índice de solidariedade de 17,4%.
Frustrante não é ?
Ps: outra coisa me preocupa: todos esses 4 alunos pertenciam a famílias com índice sócio-económico mais alto !!!
Estranho, muito, muito estranho ...
nem quero teorizar ...
4 comentários:
Tinhas um problema, arranjaste outro. Porque se não teorizares, és agora tu, senhor professor, que te demites de alterar uma situação. Essa é a tua função, professor!
Não sou muito de teorizar. Sou mais de passar à prática e foi isso que fiz . Já resolvi o problema dos livros (pedi a outras pessoas, reciclei livros antigos).
A questão do meu artigo, é que gostaria de viver num país em que tivesse 83% de sim , em vez de 83% de não.
Abraço.
pode haver explicações para o fraco índice que obtiveste. Por exemplo: os miúdos podem ter constatado que os seus livros estavam riscados e maltratados e, por isso, acharam que já não serviriam e não os levaram. Ou então já os teriam deitado fora...
Desculpa se continuo pessimista neste ponto, Chico, mas não creio que sejam essas as explicações.
Tenho assistido a muitos outros exemplos desta falta de solidariedade, de um egoísmo "genético", de uma inveja absurda, de um individualismo ancestral (Salazar e a sua mentalidade do "orgulhosamente sós" continua tão presente !).
É dramático que nuns tempos tão difíceis como este, se vejam as pessoas a isolarem-se cada vez mais, em vez de se unirem, de juntarem forças, de se ajudarem uns aos outros.
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