Fui ver a exposição de fotografia da World press Photo e não gostei !
Aliás nem sei bem porque fui, já que no ano passado tinha ficado com uma impressão negativa, que agora se agravou.
Está exposição revela afinal a tendência maioritária do foto-jornalismo ocidental, que acha que só a desgraça é notícia, só o "mal" vende, só os desastres, cataclismos, guerras e aberrações são interessantes e merecedoras de fotografias.
Para além disso, metade das fotos mostram soldados americanos no Afeganistão ou no Iraque, o que reforça a ideia que o "principal" é a América e o resto do mundo são "arredores" (isto nesta visão distorcida e medíocre do mundo).
Este jornalismo dominante é uma trampa mal cheirosa, ao serviço dos poderes económicos e políticos. A ideia é deprimir-nos ainda mais, para isso justificar ainda mais sacrifícios, ainda mais impostos e ordenados e regalias sociais cada vez piores.
Quem viesse doutra galáxia e visse estas fotos ficaria certamente com uma ideia profundamente negativa deste planeta e dos seus pérfidos habitantes ... e certamente trataria de apanhar imediatamente a próxima nave espacial, para fugir a sete pés.
Quanto à parte nacional fiquei com a ideia que fotografar o Poder é fixe ... e rende prémios. Assim tive o "previlégio" de ver uma reportagem sobre o dia a dia, do engenheiro virtual, primeiro ministro real e constatei enjoado que a foto de um Cavaco sorridente a emergir de uma sebe de São Bento, tinha ganho um dos prémios a concurso. Sensacional !!!....
Por isso aconselho: não vale a pena gastarem o vosso tempo a visitarem esta exposição ... se quiserem ver mais do mesmo, basta assistirem a um qualquer telejornal, de uma qualquer televisão, de um qualquer país do mundo ocidental.
E depois não digam que ficaram deprimidos.
7 comentários:
Bem, eu também acho que este tipo de exposições nos pode deixar um pouco abatidos. As imagens são fortes, às vezes bastante chocantes, e tudo em grandes dimensões. Mas estamos a falar de foto-reportagem, que é um género um pouco diferente do retrato, da paisagem, ou outro... Os artistas aqui são gente que trabalha para os jornais, revistas, editoras, etc. E que procuram exactamente imagens que se possam tornar notícia ou ilustrem artigos e assuntos específicos. Imagens que vendam e ajudem a vender, que dêem lucro. E se sabes isso, como dizes, na verdade não sei de que te queixas, a gente já sabe que é assim... Se o jornalismo é mau, e se tornou hoje sobretudo um negócio, isso é outra conversa.
Mas das fotos não te ouvi uma palavra. Afinal viste ou não grandes imagens? E esta é a razão do meu post : é que quem gosta e percebe realmente alguma coisa de fotografia também consegue apreciar outros valores, que muitas das vezes são tão ou mais importantes que o conteúdo, e podem mesmo ser o próprio conteúdo: falo da cor, da luz, dos contrastes, de todos os tons de cinza, ou nuances da cor, da expressão, do ritmo, composição, enquadramento, do sentido de oportunidade, da unicidade do momento, do movimento, da escala, do papel utilizado, etc, etc...
Consigo entender o teu desagrado quanto à temática, mas na verdade para a maior parte dos fotógrafos ela serve apenas de pretexto para um clique...um clique único e irrepetível.
xinha
Registo como sintomas do absurdo a que chegou "esta merda a que chamam mundo" (Saramago), duas das tuas preciosas observações:
1 - metade das fotos exibidas mostrarem soldados americanos no Iraque ou no Afeganistão
2 - reportagem sobre o dia a dia do primeiro ministro e prémio para foto do presidente
É de facto triste...
Maio
A minha vontade de lá ir já não era muita mas depois de ler o que escreveste, perdi qualquer réstia de vontade que ainda subsistisse.
Nunca fui muito adepto de concursos e exposições fotográficas e as deste tipo ainda me deixam mais desanimado com a mentalidade de quem as promove e de quem as enaltece.
Dir-me-ão que, pelo facto de não gostar da famosa World Press Photo, (nunca percebi porque não se chama Foto Jornalismo Mundial, ou coisa parecida!) sou um atrasado, um inculto, um Zé Ninguém sem o mínimo de formação artística ou cultural. Pois seja! Serei isso tudo, mas para além de não conseguir perceber que prazer podem os visitantes deste tipo de exposições tirar da visão de corpos estraçalhados pela guerra, de corpos deformados por doenças incuráveis ou de imagens de políticos incompetentes, desonestos e parasitas, também não consigo desvendar porque razão toda a gente fica embasbacada perante fotos feitas às 3 pancadas, que se tivessem sido feitas por qualquer um de nós, ninguém se dignaria sequer a conseder-lhes 2 segundos da sua atenção.
No entanto foram merecedoras de honrosos prémios e só posso deduzir que o foram porque foram feitas por fulano de tal, cujo nome é famoso na praça ou porque é um lambe-botas do poder político.
Por tudo isto, Zacarias, tens o meu apoio e WPP... não, obrigado!!!
Em resposta à tua questão Xinha, quero dizer que houve 2 ou 3 fotografias de que gostei bastante, mas tal facto não é mais que uma gota de água num total de 80 ou 90 imagens.
O que me irritou profundamente é a apologia do sangue, da guerra, da desgraça, da opressão, da miséria. Porque não uma foto gloriosa dos nossos campeões do desporto para pessoas com deficiência ? Esses é que são os verdadeiros exemplos a seguir em vez do mafioso primeiro ministro, ou do soldado americano de arma na mão, em plena caça ao taliban.
Porquê o jornalismo ignora totalmente ou despreza as pessoas lindas, corajosas e realmente heróicas deste mundo ?
Os media que temos deviam mudar o nome para merdia, porque é isso que eles realmente são.
Já faz uns anos que não vou ver esta exposição, porque também me custa ver imagens de dor, morte, ou infortúnio. Mas gosto de fotografia, muito, e sei que esta exposição é tb uma homenagem aos fotógrafos. Por eles, pela sua visão, arte e experiência. Pela sua enorme coragem e pela capacidade de em sítios e situações tão difíceis ainda conseguirem imagens fascinantes. E únicas. Tanto do ponto de vista técnico como documental. Imagens que podem ser terríveis, concordo, mas nos dão o testemunho da maldade que nunca saberíamos existir senão a víssemos. São elas que tornam verosímeis as notícias, nos jornais, nas revistas, telejornais, etc. E reparem na maioria das vezes estes repórteres nem escolhem o lugar...vão porque precisam de ganhar a sua vida, que como todos sabemos nem sempre é fácil. Ninguém vai tirar fotos para estes lugares por prazer, e ninguém vai ver estas fotos nas exposições para ver cadáveres ou políticos chatos que nos fazem a vida difícil. Vai-se porque se gosta de fotografia. Esta é a razão principal.
xinha
Xinha, desculpa lá mas não concordo com o teu ponto de vista. Ou melhor, concordo até certa altura, quando dizes que este tipo de fotografia é importante pois sem ele nunca saberíamos as atrocidades que se fazem em países distantes ou mesmo ali, logo ao lado, mas às escondidas de toda a gente (veja-se o caso Guantanamo).
Até aqui, concordo plenamente contigo. Este tipo de fotografia, tal como a reportagem televisiva é importante para nos mostrar as misérias do mundo. Mas não mais do que isso, porque isto é o pão nosso de cada dia na imprensa escrita e principalmente nos telejornais.
Portanto o que eu não consigo compreender é que se faça disto uma feira, um espectáculo. Acho macabro o à vontade com que vamos ver exposições destas, como se se tratasse apenas de exposições fotográficas. Quem é que consegue estar a olhar para atrocidades daquelas, com corpos desfeitos por bombas, miúdos a morrer à fome nos braços dos pais, doentes em fase terminal, políticos corruptos e mafiosos, miúdos-soldados a morre longe da família e ainda ter sangue frio para apreciar tecnicamente ou mesmo artisticamente aquelas imagens? Será que perante tanto sofrimento alguém é capaz de olhar para aquilo, abstraindo-se de tais horrores e comentar com o companheiro do lado: "Mas que bela fotografia! Repara como o vermelho do sangue que sai do corpo do miúdo, ficou optimamente bem exposto! Já viste como o fotógrafo conseguiu uma impressionante definição nas tripas do guerrilheiro estraçalhado! Que abertura terá utilizado? E aquela ali do drogado a morrer com SIDA, terá sido feita com uma Canon ou com uma Nikon?"
Finalmente, referes que estas pessoas fazem este trabalho não por prazer mas sim porque precisam de ganhar a vida. Ora aí está! Isto acaba por ser um trabalho como outro qualquer e sendo assim , porque razão estes, têm direito a exposições e prémios e o trabalhador que varre o lixo das ruas, ou cava a terra sob um sol abrasador, ou sai à noite num barco à pesca, não terá o direito também a prémios e exposições?
Claro que este trabalho fotográfico é importante para ser mostrado nos jornais e nas televisões, mas fazer disto um espectáculo digno de prémios e exposições é um convite ao que há de mais mórbido e sádico no ser humano. É como ir às touradas ver um palhaço qualquer com num traje amaricado, andar a torturar até à morte um animal que não tem os mesmos meios de defesa e ataque que o cobardolas tem. É o mesmo que ver os sorrisos alarves e as palmas dos espectadores perante o sangue que escorre dos golpes provocados pelas bandarilhas.
A única finalidade destes espectáculos sanguinários (refiro-me agora às exposições fotográficas como a WPP) é a banalização da guerra, da violência e do terror. Ao fim de vermos tanta imagem daquelas acabamos por achar aquilo normal, assim como achamos normal a guerra, as invasões, os ataques, os bombardeamentos e tudo o mais que os senhores da guerra nos queiram impingir.
É essa a grande finalidade destas lavagens de cérebro e o pior é que nós nem as questionamos, porque já estamos anestesiados!
Pois, como já disse, há uns anos que não vou ver esta exposição, e se tem assim tantos corpos com vísceras expostas e horrores talvez o critério de selecção tenha de facto piorado. A última que vi tinha uma ou outra imagem mais triste, nada que uma alma mais sensível não pudesse ver. E eram apenas uma ou duas no meio de dezenas. Assim, se realmente são as fotos de dor que predominam, acaba por ser, aqui concordo contigo, shana, absolutamente, um espectáculo sanguinário a evitar e contestar.
Mas, e eu não sei qual o conceito subjacente à exposição, às vezes a intenção é mesmo chocar e agitar consciências. Por mais detestável que isso nos possa parecer, hoje há muitas estéticas que não se baseiam no belo. E a fotografia como disciplina artística tem toda a liberdade de se apresentar como quiser.
xinha
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