segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O País mais ou menos

É vulgar ouvir dizer que a saudade é um sentimento tipicamente Português. É um “legado cultural”, que esta nação ofereceu ao planeta em que vivemos.

Mas não é o único ! Outro, bem vincado e cada vez mais presente é o “mais ou menos” …

--- Então, como te correu o teste ? Mais ou menos.

--- Então, como é que vai isso ? Mais ou menos.

--- Gostaste do filme ? Mais ou menos.

--- Como vai o negócio ? Mais ou menos.

--- Que tal foram as férias ? Mais ou menos.

Na realidade estamos tão habituados a ouvir este contra-senso, que já nem estranhamos.

Mas afinal é mais, ou é menos ? Como pode ser as duas coisas ao mesmo tempo ? Ou será que não é nenhuma delas e apenas uma enorme e persistente indecisão ?

Não revelará lá no fundo um medo de se definir ?

Não será como uma abstenção, numa votação importante ?

Indicará cobardia, insegurança, ou apenas fraqueza ?

É como uma tripla no totobola … quer a equipa ganhe, perca ou empate, acertamos sempre no prognóstico !!!...

Pagamos com ela e sem dar por isso, os custos elevadíssimos da indefinição.

Somos o país dos mais ou menos felizes/infelizes, dos mais ou menos contentes/descontentes, dos mais ou menos saudáveis/doentes, dos mais ou menos satisfeitos/insatisfeitos.

Será esta “herança” genética, ou apenas cultural ?

É urgente raptarmos o “menos”, das nossas vidas, para que assim o “mais”, possa finalmente desabrochar !

2 comentários:

Anónimo disse...

Bem esgalhado Zacarias, gostei!!!
Na verdade, a conversa da originalidade da saudade foi uma invenção dos saudosistas, integralistas e outros menos "istas" que, ao longo da primeira metade do século XX construiram um discurso identitário para glorificar a nação e se esqueceram, de caminho, do que o Jaime Cortesão mostrou, apresentando palavras equivalentes à "saudade" em 7 ou 8 línguas europeias. Mas é verdade! O "mais ou menos" tornou-se como... um soundbite essencial para o nosso "medo de existir", como propunha o José Gil e tu muito bem reparaste! Eu acho que sim, que deveríamos expulsar o "menos", mas a verdade é que, na conjuntura actual, com o país afogado em drogas de farmácia para aliviar a depressão, com pouco dinheiro e muitas dívidas e tudo o mais... parece que está tudo mesmo "menos": menos dinheiro, menos tempo de lazer, menos férias, menos isto e aquilo...
E o pior ainda está para vir.

Maio

Anónimo disse...

Pois é, tens mais ou menos razão...

Holof.