quarta-feira, 10 de março de 2010

Possuir / ser possuído

Será que possuímos certos bens materiais, ou por vezes chega-se a um ponto que são esses bens materiais que nos possuem a nós?
Por outras palavras: eu sou dono do meu telemóvel e não deixo que ele abuse de mim, mas conheço muitas pessoas, em que na realidade são os seus telemóveis que são donos deles.
O acto de possuir consome-nos, desgasta-nos e muitas vezes acabamos possuídos por aquilo que tanto desejávamos ter.
A leveza de nada ter, liberta-nos do peso opressivo da gravidade do ser ... faz-nos planar no ar como uma pluma ... esquecer 20 séculos de civilização, sangue, suor e lágrimas.
Para trás ficariam responsabilidades e compromissos, desejos e ambições, carreiras e preocupações, ódios e paixões ...
Poucos tem coragem de o fazer até ao fim.
Despojamento e utopia andam de mãos dadas e só nos visitam em sonhos, que por vezes nos é permitido recordar.
Enquanto isso, mais bens materiais afluem até nós, tornando-nos a cada dia que passa um pouco mais prisioneiros, sem nos trazer aquele pedacinho de felicidade que jugáramos ver neles... O compromisso aumenta, a preocupação cresce, a despesa extravasa ... e os dias passam, encurtando o tempo que nos separa da morte.
A nossa racionalidade é a essência da nossa perdição.
Alguns chegam até a perceber, que o essencial não é o que se possui ... mas é muito difícil remar contra a maré, quando a corrente é assim tão forte !!!
Tirámos bilhete só de ida ... não há volta a dar-lhe.

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